domingo, 25 de março de 2012 0 comentários

Apenas um Francisco


Barba por fazer, poucas roupas e algumas folhas de papelão que a noite se torna sua cama. Onde estará sua família, casou-se, teve filhos, foi abandonado? Sempre o vejo na sua solidão, talvez pensando na sua mocidade, na garota que amava quando jovem ou na sua cidade natal. Quando me vê sempre me deseja boa tarde ou boa noite. Não conheço sua história. Só sei o seu nome, Seu Francisco.

Cigarro entre os dedos revezando com os goles esporádicos de café. Um olhar vazio que talvez seja a pintura de um coração solitário, uma voz mansa e tímida que demonstra seu sentimento de inferioridade e medo. Nunca olha nos olhos. Penso nas humilhações que tenha passado nesses seus anos de dura vida.

Às vezes o observo escorado ao muro secando as flanelas que são seu ganha pão. Descem dos seus carros os Advogados - defensores da honra, liberdade e o patrimônio de todos; os médicos – em que a ética requer consideração, compaixão e benevolência frente aos seus pacientes; os políticos – pseudos representantes do povo e a pé passa a sociedade cada vez mais egoísta. Somados somos a indiferença, a morte social, somos a marginalização dos que nada podem nos oferecer.

Não tenho realizado nada, também me incluo no círculo dos egoístas, além de observar os seus sinais vitais. Sua temperatura social necessita de calor humano, a frequência cardíaca anda necessitando de força de outros corações bondosos e sua frequência respiratória de ar dos pulmões dos mais fortes.

Não quero me agarrar na esperança das Bem-Aventuranças, nem na utopia de que além-morte o sofrimento acabará. O Reino não é de promessas e sim de ações.

Ouço seu Francisco a nos perguntar:
“Eu tive fome, e vocês me deram de comer? Tive sede, e vocês me deram de beber? Fui estrangeiro, e vocês me acolheram? Necessitei de roupas, e vocês me vestiram? Estive enfermo, e vocês cuidaram de mim?”

Que nossa reposta nunca possa ser: “Francisco, quando te vimos com fome ou com sede ou estrangeiro ou necessitado de roupas ou enfermo, e não te ajudamos?”

Se o nosso próximo tropeçar que estendamos nossas mãos e o levantemos, se o nosso próximo tem fome que compartilhemos o pão, se o nosso próximo está nu que o envolvamos com o manto. Que nossas ações sejam baseadas no amor. Que nos esvaziemos da indiferença e façamos a diferença amando o próximo.
 
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