domingo, 18 de março de 2012

"géenna"



Longe dos centros urbanos, à margem de uma sociedade individualista, crianças, adolescentes e adultos se amontoam ao redor de uma nova carrada de lixo. Catam restos de comida que disputam com pássaros, ratos e criações de porcos.

O chorume, líquido natural do apodrecimento da matéria orgânica, escorre com seu odor nauseante e faz companhia as mães amamentando seus filhos.

A solidão de cada olhar, o choro gritante da criança, o sofrimento angustiante da mãe anunciam a morte da esperança. Uma infância perdida. Não sabem jogar bila, as meninas não pulam amarelinha e jamais dançaram ciranda.

No entardecer, o brilho do Sol se confunde com o fogo que queima com a geração do metano, as bactérias metanogênicas não cessam seu trabalho, o fogo jamais se apaga.

onde “o verme não morre, e o fogo jamais se apaga”. (Mc 9:48)

Estão condenados! Condenados por uma sociedade que assaltam sua dignidade e os lançam no “inferno” onde o ranger de dentes ecoam das crianças desnutridas, onde o choro nasce do coração do pai que não vislumbra o fim do sofrimento.

Tornamos-nos naquele que veio para matar, roubar e destruir. Somos demônios torturantes dos nossos próximos. Somos os que alimentam o fogo que os queimam sem piedade.

Abraço-me com o que afirma Marquês de Sade “Não há outro inferno para o homem além da estupidez ou da maldade dos seus semelhantes”.

Não quero perder a fé, não quero torna-me pessimista discípulo de Arthur Schopenhauer. Quero acreditar na salvação dos marginalizados, daqueles açoitados pela religião, dos que pedem um pedaço de pão, dos viciados no crack.

Quero manter a esperança de que ainda somos capazes de transformar os lixões em o Reino de Deus, que somos capazes de reciclar a dignidade humana, de reavivar a beleza escondida em meio à degradação.

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